O Brasil possui 1,7 milhão de quilômetros de rodovias que são essenciais para o transporte de cargas e passageiros, respondendo por 65% desse transporte. Neste contexto se destaca as cooperativas de transporte.
O ramo transporte do cooperativismo é uma referência em todo território nacional, com 752 cooperativas que reúnem 114.878 cooperados. O estado com mais cooperativas é Minas Gerais, com 158.
O anuário sobre o cooperativismo do Sistema OCB do ano passado mostra que as cooperativas de transporte concentram R$ 4,6 bilhões em ativos totais.
As cooperativas de transporte no país têm trabalhado todos os dias para realizar seu trabalho de forma eficiente, mas as dificuldades surgem e precisam ser superadas.
O ramo enfrenta um cenário dinâmico, impactado pelas transformações tecnológicas, mudanças nos hábitos de consumo, desafios regulatórios, entre outros.
Tiago Barros, analista de transporte do Sistema OCB, fala sobre as dificuldades em várias questões e que impactam no seu desenvolvimento.
“Entre os principais entraves estão a dificuldade de acesso a linhas de crédito específicas; questões ligadas à participação de cooperativas em processos licitatórios; e a informalidade em alguns segmentos, que ainda representa um obstáculo à expansão do cooperativismo formalizado. Soma-se a estes pontos, a questão da renovação do quadro social e a formação de novas lideranças para o cooperativismo de transporte”, explicou Tiago.
O diretor administrativo da Coopertran, Fágner Capobiango Pereira, concorda que há desafios nas licitações e na obtenção de crédito.
“A participação em licitações têm dificuldade, pois as cooperativas são proibidas erroneamente de participar dos certames e é necessário linhas de crédito para renovação da frota”, disse Fágner.
Das dificuldades surgem as oportunidades para crescimento e desenvolvimento das cooperativas com a crescente digitalização dos serviços e a expansão das plataformas de mobilidade cria as condições para ampliação do alcance das cooperativas em novos mercados.
Para Tiago Barros, as cooperativas de transporte têm um papel estratégico “na promoção da inclusão produtiva e no enfrentamento dos desafios da mobilidade urbana.”
Modernização
A tecnologia é um setor em constante evolução que nunca para, e é necessário estar atento às novidades que podem afetar todos os setores da economia do país. O transporte não fica de fora disso.
Para o diretor do ramo de transporte da Ocergs, Roberto, mostrar algumas tendências que podem impactar as cooperativas de transporte, como modernização da frota, sustentabilidade, digitalização, entre outras.
Quando Roberto fala sobre digitalização, ele afirma: “A adoção de ferramentas de gestão logística, apps de comunicação interna, plataformas para controle de frota e digitalização da documentação é essencial para o desenvolvimento das cooperativas de transporte.”
O Sistema OCB/ES comenta que o uso cada vez mais frequente de tecnologia, incluindo aplicativos, reflete na essência do cooperativismo de transporte, que é conectar lugares e pessoas.
Outra questão que vai além da utilização de novas tecnologias é a das pessoas quererem negócios mais humanos, feitos por e para pessoas. “Essa característica, que já está presente nas cooperativas de transporte, deve ser ainda mais potencializada”, afirma o Sistema OCB/ES.
Apoio
Como qualquer setor, é necessário recursos, legislação, entre outras questões que o Estado pode fornecer para que os setores econômicos contribuam para o desenvolvimento do Brasil.
O cooperativismo de transporte brasileiro também é um setor que recebe apoio do poder público, mas ainda é pouco em relação ao tamanho do setor.
É assim que o Sistema OCB, com o apoio das Organizações Estaduais (OCEs), atua nas esferas federal, estadual e municipal.
“No Brasil, o Sistema OCB, com apoio das Organizações Estaduais (OCEs), tem dialogado com o poder público, seja municipal, estadual ou federal, para ampliar políticas públicas específicas que favoreçam o desenvolvimento das cooperativas de transporte.
Mesmo com um apoio limitado, o cooperativismo em todos os ramos tem crescido em todo o país, conquistando cada vez mais espaço na sociedade e abrindo diálogos com o poder público.
Um exemplo é o Sistema OCB/ES, que tem atuado no Espírito Santo, criando espaço de discussão, mostrando a relevância e o impacto do cooperativismo no desenvolvimento das comunidades, das cidades e do estado de forma geral.
“Claro que ainda há desafios a serem superados, como a falta de conhecimento acerca do funcionamento das cooperativas e o próprio impedimento da participação delas nas licitações, mas evoluímos muito no relacionamento com os atores políticos, que têm demonstrado interesse e apoio a esse modelo de negócio pelo seu resultado e potencial”, explicou o Sistema OCB/ES.
Diferenciais
No mundo em que a competição é mais importante que a cooperação, o cooperativismo é o empreendimento que reúne pessoas para crescerem juntas, gerando mais renda e trabalho para todos, direta e indiretamente.
“O cooperativismo de transporte se diferencia por seu modelo democrático, solidário e associativo, em que os próprios trabalhadores são donos do negócio. Já nas empresas tradicionais, as decisões geralmente são centralizadas em acionistas ou diretores, com foco na maximização do lucro”, afirma Fagner da Coopertran.
Os cooperados, por meio de assembleias, decidem sobre os rumos da cooperativa, e suas relações são baseadas na intercooperação e mutualismo, e não na competição interna.